Poluição até 22 mil vezes além da permitida na praia do Olho d'Água, em São Luís, é destaque em revista científica internacional
Mancha escura é registrada na praia do Olho d'Água, em São Luís Um estudo publicado na revista 'Thalassas: An International Journal of Marine Sciences' — ...
Mancha escura é registrada na praia do Olho d'Água, em São Luís Um estudo publicado na revista 'Thalassas: An International Journal of Marine Sciences' — uma das mais respeitadas do mundo na área de poluição marinha — destacou níveis extremos de contaminação fecal na praia do Olho d’Água, em São Luís. Clique e se inscreva no canal do g1 Maranhão no WhatsApp A pesquisa, intitulada "Fecal Contamination in an Amazonian Macrotidal Beach" (Contaminação Fecal em uma Praia Amazônica de Macromaré), apontou que, em determinados momentos, a concentração de bactérias chegou a ser 22 mil vezes superior ao que já é considerado impróprio, segundo os padrões do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Veja também: Mancha escura é registrada na praia do Olho d'Água, em São Luís O estudo foi publicado no dia 29 de novembro deste ano, referente a coletas que aconteceram entre junho e dezembro de 2022 - período que engloba meses de estiagem e de chuva no Maranhão. Foram realizadas seis campanhas de coleta ao longo desses meses, abrangendo três ambientes: água do mar, água intersticial (que fica dentro da areia), e sedimentos superficiais (sujeira por cima da areia) Níveis ultrapassam muito o limite As análises laboratoriais revelaram presença elevada de bactérias indicadoras de contaminação fecal, como coliformes totais, E. coli e Enterococcus spp., em todos os ambientes avaliados. Na água do mar, considerada pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) como o parâmetro oficial para balneabilidade, os valores de E. coli e Enterococcus ficaram acima do limite legal — que é de 2.000 e 400 unidades por 100 mL, respectivamente. Veja também: Caema deverá pagar R$ 400 mil por “Língua Negra” gerada na Praia do Calhau, em São Luís Segundo os pesquisadores, os níveis mais críticos foram registrados durante o período chuvoso, quando o escoamento de águas pluviais, o extravasamento de esgoto e o aumento da vazão do Rio Pimenta intensificam a contaminação. "Os maiores valores de E coli foram encontrados na água do mar: 5.487.000/100mL. Para Enterococcus foi 8.842.000/100mL. Apesar da coleta ter sido realizada em 2022, ainda hoje conseguimos observar que há muita poluição nessa praia", afirma o biólogo e pesquisador Jorge Nunes, que participou do estudo. Em maio, mancha escura e fedorenta foi vista no Olho d'Água Mancha escura é registrada na praia do Olho d'Água, em São Luís, em março de 2025 Adriano Soares/TV Mirante Em maio deste ano, uma enorme mancha escura foi registrada na praia do Olho d'Água. A água escura aparentava ser esgoto in natura lançado no mar. Segundo o jornalista da TV Mirante Adriano Soares, que fez o registro em vídeo do local, a água estava com forte odor de esgoto (veja as imagens acima). Na época, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Naturais do Maranhão (Sema) informou que uma equipe técnica foi enviada ao local para apurar os fatos e realizar a coleta de amostras de água, com o objetivo de identificar a origem e a composição do material lançado no mar. Em março deste ano, a coloração da água do mar em alguns trechos das praias de São Marcos e do Calhau também chamou a atenção e preocupou banhistas. Manchas aparecem em trechos de praias de São Luís Reprodução/TV Mirante Areia também apresenta risco, mas não é monitorada Além da água do mar, a pesquisa apontou que a areia e a água dentro da areia da praia do Olho d'Água funcionam como reservatórios de bactérias fecais, que podem retornar para o mar com a ação das ondas e das marés. Apesar disso, a legislação brasileira não prevê monitoramento sanitário do sedimento, o que, segundo o pesquisador, subestima o real risco enfrentado por banhistas, que muitas vezes se guiam apenas pelas placas que apontam apenas a poluição na água, e esquecem da areia. “Os resultados mostram que a contaminação é contínua e distribuída em toda a praia. Limitar o monitoramento apenas à água superficial não representa o cenário completo. Hoje, as placas de balneabilidade escondem um grande problema. Induz o banhista pensar que o problema está na água do mar. Mas o estudo mostra que a areia e a água dentro da areia são igualmente problemáticas. Quantas pessoas acham que estão seguras não banhando? Quantas pessoas possuem comorbidades e são sucessíveis a infecções graves? Quantas crianças brincam na areia?”, destaca Jorge Nunes. Por que os índices são tão altos na área A pesquisa destaca que a praia, localizada na costa amazônica, sofre influência direta de diversos fatores que intensificam a contaminação, como: descargas de esgoto sem tratamento; grande aporte de água de rios urbanos; variações bruscas de maré, que redistribuem sedimentos contaminados; elevado fluxo populacional e ocupação desordenada da orla. Moradores cobram limpeza das rampas de acesso na praia do Olho d’Água Impacto sobre a saúde Em casos de exposição, a ingestão ou contato com a água contaminada pode causar: diarreias agudas, infecções intestinais, infecções de pele e ouvidos, riscos adicionais para idosos, gestantes e pessoas imunossuprimidas. O estudo também cita dados do Ministério da Saúde mostrando que São Luís registrou centenas de internações por doenças relacionadas à água contaminada no último ano, evidenciando o impacto sanitário. Além disso, quase metade da população (49,5%) não possui coleta de esgoto, fator que contribui diretamente para a degradação da orla. Leia também: Mancha escura surge em praias de São Luís; amostras de água passam por análise Análise de mancha marrom vista em praias de São Luís não identificou alteração na qualidade da água, afirma Sema Areia das praias de São Luís está poluída, apontam pesquisadores “Língua Negra” em direção a praia preocupa banhistas no Maranhão O que diz o governo do Maranhão O g1 pediu um posicionamento do governo Brandão sobre o problema histórico da poluição na praia do Olho d'Água e aguarda retorno.