Protagonismo feminino: Mulheres negras atuam no combate à fome e no incentivo à educação na maior favela do Nordeste em São Luís
O Coletivo Mulheres Negras da Periferia é gerido por 12 mulheres negras que trabalham na região do polo Coroadinho, na capital. Os projetos de combate à fome...
O Coletivo Mulheres Negras da Periferia é gerido por 12 mulheres negras que trabalham na região do polo Coroadinho, na capital. Os projetos de combate à fome e incentivo à educação já atenderam mais de sete mil pessoas em 2024 e os números de pessoas assistidas continuam a crescer. Conheça grupo de mulheres negras que atuam no combate à fome na maior favela do Nordeste Um grupo de mulheres negras maranhenses ganhou destaque no protagonismo da luta pelo acesso a direitos básicos da população da comunidade do polo Coroadinho, em São Luís. Com cerca de 35 bairros, o Coroadinho e é considerado a maior favela da Região Nordeste, ocupando a oitava 8ª posição na lista das maiores favelas do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). ✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Maranhão no WhatsApp A região possui 51.050 moradores, que vivem em cerca de 16.741 domicílios. Dentre a população, de maioria negra, surgiu a necessidade de se fazer serem ouvidas as demandas locais da comunidade por mais visibilidade e, neste cenário, nasceu o Coletivo Mulheres Negras da Periferia. O grupo atua na região com diversas frentes de trabalhos que espalham a mensagem antirracista, como na área da educação e nos trabalhos de incentivo e fortalecimento da cultura preta, além de investir na formação profissional, ofertando cursos profissionalizantes para a comunidade local. Mulheres negras montam coletivo e atuam no combate à fome e no incentivo à educação na maior favela do Nordeste em São Luís Matheus Barroso / g1 Como começou Ao g1, a ativista periférica Jú do Coroadinho, fundadora e presidente do Coletivo Mulheres Negras da Periferia e moradora do polo conta que o projeto surgiu a partir de uma inquietação coletiva de mulheres negras que perceberam a falta de representação nos espaços públicos e de poder. Jú explicou que a ideia de criar o coletivo nasceu entre os anos de 2018 e 2019, em uma conversa dentro de um ônibus com quatro amigas sobre a formação de um lugar de acolhimento para as pessoas pretas que debatesse questões raciais. Hoje, o coletivo conta com 12 mulheres dirigentes mais 20 voluntários, sendo 18 mulheres. “Apesar da gente morar no Maranhão, um lugar com muitas pessoas pretas, a gente não conseguia enxergar. Já se passaram seis anos de lá pra cá, com essa grande proposta de ter uma educação antirracista, de ter um espaço onde possa aquilombar as pessoas, onde possam se alimentar e estudar”, disse a fundadora do coletivo. A ativista Jú do Coroadinho, fundadora e presidente do Coletivo Mulheres Negras da Periferia e moradora do Polo Coroadinho em São Luís (MA) Divulgação Para a ativista, o crescimento do coletivo alcançou proporções que jamais poderia imaginar, estendendo sua zona de ação para outras regiões da capital em que eram constatadas a necessidade de implementação de projetos sociais voltados para o combate à pobreza e incentivo à educação. “A gente jamais poderia imaginar que isso se tornaria essa grandiosidade, que hoje é o Coletivo Mulheres Negras da Periferia. A gente consegue abranger a favela inteira do polo Coroadinho, mas a gente tem abrangência também no João Paulo, no Coroado, no Centro. A gente já consegue estar em outros bairros de São Luís”, enfatiza a fundadora. Casa das Pretas A Casa das Pretas é a sede do Coletivo Mulheres Negras da Periferia, localizada no bairro Coroadinho. O espaço é usado para o desenvolvimento dos projetos do grupo e para a realização das atividades, como as aulas, os encontros de tambor de crioula e programações especiais que envolvem os moradores. De acordo com Jú do Coroadinho, em 2024, mais de 7 mil pessoas puderam desfrutar dos serviços oferecidos na casa. O espaço também conta com uma sala de cinema, chamado Cine Coroadinho, e uma “pretoteca”, uma biblioteca com livros apenas de autores negros. Para Gabriel Souza, de 12 anos, o projeto serve para aprender várias coisas sobre sua ancestralidade. Ele, que faz parte do Tambor de Crioula Mirim junto de outras 50 crianças, conta que acha importante que outras crianças participem e aprendam sobre suas raízes. “Junto com esse projeto, eu consigo aprender várias coisas. Primeiro, sobre nossa ancestralidade, tudo que nossos povos de antigamente passaram e também sobre nossas culturas. Então, eu acho muito importante que todas as crianças participem”, compartilhou Gabriel. Gabriel Souza, de 12 anos, faz parte do projeto Matheus Barroso / g1 Qualificação profissional A vice-presidente do coletivo, Letícia Vieira, ressalta que a casa é também um lugar de crescimento profissional para pessoas que desejam se qualificar para o mercado de trabalho, seguindo a linha de que a educação é o caminho mais poderoso de mudanças sociais. A vice-presidente do coletivo, Letícia Vieira, ressalta que a casa é também um lugar de crescimento profissional. Matheus Barroso / g1 Para ela, as iniciativas em parceria com outros institutos têm como objetivo tornar as pessoas da comunidade mais preparadas para as demandas do mercado, de forma gratuita. “Nós oferecemos o curso de auxiliar de escritório para uma população de forma geral, para que a gente ofereça qualificação profissional que coloque essas pessoas dentro do mercado de trabalho”, disse Letícia. A Casa das Pretas também foca no auxílio ao empreendedorismo dos alunos, com cursos de barbeiro, padeiro, doces e salgados, incentivando a formação de novos negócios. Além destes, é oferecido o curso de trancista, onde as mulheres aprendem a arte das tranças e são ensinadas sobre a relevância histórica que elas têm para o povo preto. Projeto também oferece qualificação profissional na favela Divulgação “A gente pode ensinar a arte da trança, falando sobre a sua questão de todo seu legado e tudo que vem com a trança, que não é só uma questão estética, mas tem todo um porquê de se usar, de onde surgiram. Além de fazer com que essas mulheres possam empreender e fazer com que elas possam abrir seus espaços de trabalho”. Projetos futuros Para as diretoras, a formação do Coletivo Mulheres Negras da Periferia é um sonho que a cada conquista vem se concretizando e se firmando na sociedade. Não se limitando com as realizações e com as dificuldades, o grupo continua trabalhando para alcançar lugares ainda mais altos para que mais pessoas sejam alcançadas com os trabalhos de educação e combate à fome. Ao relembrar a formação do grupo e das conquistas, que até então pareciam impossíveis, Letícia se emociona e diz que espera realizar sonhos ainda maiores na trajetória como integrante do grupo. “O coletivo é um grande sonho que conseguiu se concretizar de uma forma muito linda. A gente começou numa roda de tambor de crioula, de repente surge a sede com muito trabalho desenvolvido. A intenção é alcançar outras áreas dentro de nossa comunidade, oferecer qualidade de vida. Os sonhos para o futuro são os melhores possíveis”, relata Letícia. Como contribuir O coletivo sobre campanhas periódicas de voluntariado, divulgadas pelas redes sociais do grupo (@coletivo.mulheresnegras), para ampliar o corpo de voluntários e conhecer os serviços oferecidos pela sede. Outra forma de contribuir é através de doação financeira para a compra de alimentos e materiais dos cursos. As campanhas de doação são divulgadas também pelas redes sociais. Outra forma é fazendo parceria com outros institutos que possam ajudar na manutenção dos cursos ofertados. Os interessados em ajudar a manter as ações ativas podem se atentar nas publicações do coletivo e seguir o passo a passo ou entrar em contato com o coletivo e procurar uma das diretoras. *Estagiário supervisionado por Rafaelle Fróes.