Três olhares, uma cidade: conheça artistas que transformam São Luís em arte
Três olhares, uma cidade: conheça artistas que transformam São Luís em arte Arquivo Pessoal/Montagem g1 Seja em muros, telas ou na fotografia, São Luís re...

Três olhares, uma cidade: conheça artistas que transformam São Luís em arte Arquivo Pessoal/Montagem g1 Seja em muros, telas ou na fotografia, São Luís respira arte em cada canto. A cidade, que desperta olhares por suas ruas, casarões e praças, também leva artistas a transformar a capital maranhense em protagonista de suas obras, traduzindo a riqueza cultural da Ilha do Amor a partir de diferentes olhares. No aniversário de 413 anos da cidade, que se comemora nesta segunda-feira (8), o g1 conversou com três artistas que têm São Luís como inspiração e transformam a cidade em arte. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias do MA em tempo real e de graça Alan Rodrigues e a poesia através da fotografia Foi durante o isolamento que o fotógrafo Alan Rodrigues começou a perceber detalhes da cidade Alan Rodrigues Fotógrafo e apaixonado pela cidade onde nasceu e cresceu, Alan Rodrigues, de 30 anos, encontrou na fotografia uma forma de observar São Luís com um novo olhar. A pandemia, segundo ele, foi o ponto de virada. Foi durante o isolamento que o artista começou a perceber detalhes da cidade que antes passavam despercebidos e decidiu registrá-los. “Enquanto estávamos em isolamento social, eu saía para pedalar pelo centro da cidade como forma de escape e, ao me deparar com o centro histórico vazio, senti uma angústia imensa. Então, um dia levei a câmera comigo e comecei a fotografar. Parava na beira-mar para observar o pôr do sol e aquela beleza despertava em mim uma poesia. Passei a escrever e a transformar o caos do cotidiano pandêmico em imagens e palavras”, lembra. Segundo Alan, foi a partir desse momento que o cotidiano da capital se tornou sua inspiração. Hoje, o fotografo conta que passa horas registrando o Centro Histórico, os casarões, as garças e os pores do sol, sempre buscando mostrar a interação das pessoas com a cidade. “Gosto de sentir o movimento da cidade e, principalmente, das pessoas. O que mais me chama atenção não é só a paisagem em si, como o centro histórico, os casarões, a beira-mar, as garças e o mar, mas a relação das pessoas com a cidade. Gosto de fotografar desde o cotidiano do meu bairro, o Bairro de Fátima, até os pores do sol na beira-mar, que sempre surpreendem”. “Quase sempre as pessoas estão no meio, porque acredito que nós somos parte de São Luís. A gente existe aqui e faz a cidade acontecer: fazemos cultura, arte, nos apaixonamos, ficamos de mãos dadas olhando o pôr do sol e as variações de tons alaranjados que se espalham pelo céu. Alan Rodrigues conta que encontrou na fotografia uma forma de observar São Luís com um novo olhar Alan Rodrigues O fotógrafo conta que se surpreende com o alcance das suas imagens. Segundo ele, suas fotos têm o poder de conectar pessoas com a cidade, mesmo à distância. “Grande parte dos meus seguidores são apaixonados por São Luís, e muitos tiveram que deixar a cidade. Eles relatam que minhas fotos ajudam a matar a saudade de casa. Uma vez, uma senhora que morava há mais de 30 anos na Europa me encontrou no centro histórico, me abraçou e disse que minhas fotos traziam as melhores lembranças que ela tinha de São Luís”, relembra. Iara Oliveira e a arte eternizada na pele A artista visual e tatuadora, Iara Oliveira, descobriu cedo que a arte seria seu caminho Arquivo Pessoal De Chapadinha para São Luís, a artista visual e tatuadora, Iara Oliveira, descobriu cedo que a arte seria seu caminho. Ela conta que se mudou para a capital aos 10 anos e, desde adolescente, mergulhou no universo da tatuagem. Aos 16 anos, ainda antes da maioridade, decidiu transformar sua paixão em profissão. Foi também durante a pandemia, que a artista redescobriu outras vertentes artísticas e começou a explorar pintura em telas, aquarela, acrílica, ilustração digital e artesanato em cerâmica fria. Segundo ela, esse período foi decisivo para que começasse a incorporar elementos da cultura local em suas criações, entrando em um processo de descolonização estética, ou seja, romper com padrões estéticos impostos pela colonização. “Na pandemia comecei a me politizar mais e entrei em um processo de descolonização estética. Nesse caminho, surgiu a ideia de criar desenhos para tatuar que fizessem referência à nossa cultura em vários níveis — Maranhão, Nordeste, Amazônia, Brasil e América Latina. É um processo contínuo, de aprendizado e aprofundamento. E claro, a paixão do maranhense pelo estado é realmente inspiradora”, explica. Entre os elementos que mais gosta de retratar estão os Cazumbás, casarões históricos, barcos, guarás e cenas do centro histórico, que, segundo ela, oferecem uma riqueza infinita de referências visuais. “Muitas pessoas já me procuram diretamente com esse desejo. Inclusive pessoas de fora que querem levar um pedaço dessa lembrança na pele”, disse. Entre os elementos que mais gosta de retratar estão os Cazumbás, casarões históricos, barcos, guarás e cenas do centro histórico Arquivo Pessoal Segundo Iara, São Luís é uma cidade que inspira constantemente e se faz presente em cada detalhe de sua arte. "São Luís, pra mim, é um encantamento constante, o visual urbano misto, natural e urbano, a mistura de mar e manguezal, as revoadas de guarás, as fogueiras de esquentar tambores, o reggae… Minha arte é a forma que encontrei de devolver esse amor, e de trabalhar a minha identidade visual nas cenas me tocam pelos arredores da cidade", conta. Leia também: ‘Ilha-mundo’: as influências étnicas globais que moldaram a identidade cultural e histórica de São Luís São Luís 413 anos: guia para explorar a capital e seus tesouros vizinhos Gil Leros e a arte urbana como forma de dar voz à cidade Para o grafiteiro Gil Leros, de 40 anos, São Luís se tornou uma tela viva que carrega cultura e história Ingred Barros Já para o grafiteiro Gil Leros, de 40 anos, São Luís se tornou uma tela viva que carrega cultura e história. Nascido em Tucuruí (PA), ele chegou à capital maranhense ainda adolescente e encontrou no bairro da Divinéia o espaço ideal para desenvolver sua arte. A cidade, segundo Gil, se apresenta a cada esquina como uma oportunidade de intervenção artística, um convite para transformar o urbano em expressão cultural. O grafite, para ele, é uma forma de humanizar a cidade e dar voz à juventude. "Ter arte nas ruas das cidades, ela tem uma importância muito grande, porque ela humaniza os espaços. E, em especial, humaniza com uma visão jovem, né? Já que o grafite dialoga muito bem com essa questão da juventude, do aspecto juvenil de fato. Desde sua essência, sua origem, ele faz esse diálogo importante com a juventude. É uma marca, é um elemento estético que mostra que na cidade existe uma juventude ali ativa, existe uma juventude ali que intervém na paisagem" "É uma forma de fato, é um grito da juventude dizer assim, olha, existimos, estamos aqui, estamos intervindo", conta. Suas obras carregam memórias e referências culturais, do bumba meu boi ao tambor de crioula, passando pelo cacuriá e símbolos dos terreiros da cidade. Entre seus trabalhos mais conhecidos está a Escadaria da Coreira, no Centro Histórico, que virou cenário para centenas de fotos, e hoje deu lugar à ilustração de um guará. Além disso, Gil idealizou o projeto Amo, Poeta e Cantador e Cantador, que homenageia mestres da cultura popular em murais espalhados pela cidade, iniciativa que também se transformou em livro e documentários. O artista se inspirou nos painéis de “graffiti in memorian” feitos em homenagem a MC’s, DJ’s e personalidades da cultura Hip Hop, muito comum nos bairros de periferia de cidades consideradas berços desta cultura. "Me sinto muito feliz, não só por ser grafiteiro urbano, mas também pelas pessoas terem abraçado essa minha identidade, terem abraçado essa vontade que eu tinha de representar esse povo daqui", disse. Initial plugin text Veja também: Ponto turístico de São Luís, Beco do Silva ganha novo grafite inspirado em belezas do Maranhão Artista faz mural em homenagem ao fundador do boi de Pindaré, João Câncio Para grafiteiro, cada intervenção é também uma oportunidade de transformar a percepção da cidade. “Quando alguém para diante de um mural, fotografa ou compartilha, é como se a cidade falasse com aquela pessoa. E isso é arte: mudar a forma como as pessoas vivem o espaço urbano.” Apesar do reconhecimento, ele ressalta que ainda existe uma carência de políticas públicas voltadas para a valorização da arte urbana. “O trato com as artes visuais urbanas, com o cenário urbano, ele é muito cruel, de certa forma, pelas gestões. Basta olhar os nomes nos aniversários da cidade: o número de artistas de fora e o pouquíssimo de artistas locais dentro do quadro”, critica. Escadaria no centro histórico de São Luís vira cenário de fotos